quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Crónica


A Agência Funerária Salvador

Há poucos dias fui surpreendido com a morte de alguém próximo e que me foi próximo durante muitos anos. Não quero escrever sobre isso, mas sobre o que a ocorrência suscitou.
O funeral da pessoa que morreu, tal como a maioria dos funerais lá na aldeia, foi realizado pela Agência Funerária Salvador com sede em Ponte de Lima, no pleno Alto Minho ultracatólico. O Sr. Salvador é o dono da Funerária a que dá nome. Sem nenhuma lucidez da nossa parte isto até pode escapar, mas a mim não me escapa há anos.
Em resumo, o ‘problema’ é que há uma Agência Funerária Salvador, ou seja, a leitura das três palavras olhando ao que significam, formam uma dupla ironia, primeiro porque o Salvador não salva mas enterra literalmente pessoas, depois pela visão católica da morte como salvação, o Sr. Salvador antecipa-se à salvação apregoada pela igreja Católica.
Isto levanta muitas questões acerca do Sr. Salvador e da origem do seu nome.
Como primeiro cenário imagino que o Pai do Sr. Salvador era já proprietário de uma Agência Funerária que depois legou ao filho. Se isto fosse verdade tinha que lhe tirar o chapéu pelo golpe de génio, dar o nome de Salvador ao filho para ele ser um futuro empresário do ramo é um exemplo do melhor marketing que existe. Isto pode ser só a minha imaginação a alimentar-se de humor negro, pode ser que o Sr. Salvador seja um predestinado e as pessoas enterradas por ele levam logo o passaporte carimbado para a salvação, não tendo estes de fazer fila para o São Pedro. Ou ainda, o Sr. Salvador é o tipo de empreendedor que o atual governo gosta, ou seja, um dia ficou no café até mais tarde, bebeu mais do que a conta e acabou por ter um ataque de lucidez e exclamou: “Epah, eu chamo-me Salvador, com este nome e nesta região o meu futuro é o negócio funerário”.
Não sei qual destas situações, ou outra que não previ, desencadeou o negócio funerário do Sr. Salvador, mas já deixei passar tempo demais sem ter ‘denunciado’ este caso que me parece ser uma das melhores ironias que Ponte de Lima tem para oferecer.

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