A constante “reforma”
da Segurança Social e o precoce abandono escolar
Há anos que ouvimos falar de
reforma da segurança social portuguesa. A verdade, é que quase desde a sua
fundação em 1974, este assunto tem sido badalado para chegar aos nossos
ouvidos. Começou nos anos 80, a pressão das crises petroliferas empurram o
neo-liberalismo económico para proeminência, facto bem espelhado na dupla
transatlântica da época Reagen-Thatcher.
No fundo a nossa Segurança Social nasce, e tendo em conta a corrente
politico-económica do contexto mundial, precisa de ser reformada, e claro que
este “reformar” significa cortar despesa.
Assim, condicionada pelos ventos
externos, a Segurança Social portuguesa foi evoluindo e de certa forma
expandindo-se timidamente. Contudo, urge uma nova reforma, tanto pela pressão
demográfica como pela evolução da robótica e consequente destruição de empregos
que jamais serão recuperados. A criação de um Rendimento Básico Incondicional
e de uma taxa de contribuição sobre robots serão de certeza temas de futuro em
Portugal pois já são assuntos de presente na Europa do Norte.
Um assunto na ordem do dia, também da segurança
social, e para o qual quero contribuir, são os pensionistas com longas
carreiras contributivas, pessoas que trabalharam e pagaram as suas contribuições
para a segurança social durante mais de 40 anos. Muitas destas pessoas
iniciaram-se no mercado de trabalho muito precocemente, o que as levou a ter
muitos anos de contribuições, casos de 40 e mais anos, sem que tivessem
atingido a idade legal de reforma (atualmete 66 anos e 4 meses), contudo,
apesar de uma carreira contributiva longa e exemplar, os que se reformaram com
idade inferior à idade legal de reforma tiveram severas e injustas
penalizações. Para perceber este exemplo basta comparar um indivíduo que tenha
trabalhado e contribuído entre os 18 e os 60 anos de idade, e um outro que
tenha trabalhado e contribuído entre os 24 e os 66 anos, o primeiro, apesar de
ter os mesmos anos de contribuições e de trabalho se se reformar aos 60 anos
terá uma penalização na sua pensão a variar entre 30-40% enquanto o segundo não
tem nenhuma penalização. Assim, o indivíduo que começou a trabalhar aos 18
anos, para não ser penalizado ou tem de continuar a trabalhar até à idade legal
de reforma, ou não trabalhando, terá de ter outra fonte de rendimento. Quer uma
quer outra solução não deixam de gerar um tratamento desigual e injusto face ao
outro indivíduo.
As injustiças que existem acima
retratadas são a consequência da entrada, forçada e precoce, no mercado de trabalho
de várias gerações de portugueses para enfrentar a carência económica em que se
encontravam, mas também, pela inexistência de uma politica de educação e ensino
democrática. O exemplo extremo que usei foi um indivíduo com 18 anos mas muitos
começaram a trabalhar com menos de 18 anos, do meio de onde venho, da geração
dos nascidos nos anos 80, conheço vários que entraram no mercado de trabalho
com menos de 18 anos.
Atualmente, e apesar do esforço
que se faz nos gastos públicos com educação, continua a existir abandono
escolar precoce, para mim, o conceito de abandono escolar precoce contempla
todos os indivíduos que abandonam o ensino e que tem menos de 18 anos. Se um
indivíduo com menos de 18 anos não pode ter licença de condução, não pode beber
comprar nem bebidas alcoólicas, não pode comprar tabaco ou fumar também não
podemos considerar que tem a lucidez necessária para decidir se deve ou não
deixar de estudar, decisão que pode afetar em muito a sua vida e prosperidade
futura.
Os dados que nos chegam dos
melhores exemplos europeus, cada cidadão trabalha em média menos de 40 anos,
assumindo os 40 anos como o socialmente aceitável, alguém que comece a
trabalhar e contribuir aos 18 anos e só pare na idade legal de reforma, 66 anos
e 3 meses, contribui e trabalha 46 anos e 3 meses, o que volta a cair numa
situação de injustiça face aos que se iniciam no mercado de trabalho mais
tarde.
Esta entrada no mercado do
trabalho aos 18 anos não deixa de ser um problema, primeiro face ao défice de
formação que o país tem, é importante que se estudem mais anos, há estudos que
apontam que a diferença de performance de um indivíduo com um ano de
universidade é muito superior face a um indivíduo só com o ensino secundário.
Por outro lado há estudos que demonstram que as sociedades mais igualitárias
são as que tem níveis educacionais mais elevados. Acreditando eu nestes estudos
empíricos, uma das sugestões que faria na próxima reforma da segurança social
era uma penalização dos descontos dos indivíduos na faixa dos 18-22 anos, uma
penalização a operar no presente: uma agravante na contribuição; e uma
penalização no futuro: essas contribuições relativas à idade dos 18-22 só
contarem para o cálculo da pensão a 50%. Isto como regra geral, em termos
práticos podia-se considerar umas quantas exceções tal como os trabalhadores
estudantes com propinas pagas, matriculas e certo nível de aproveitamento
escolar.
Por outro lado, para quem já
chegou aos 40 anos de desconto e queira continuar a trabalhar devia ter uma
majoração das contribuições, tal como acontece no corrente quadro legal para os
indivíduos que continuam a trabalhar além da idade legal de reforma.
Com a conjugação destas medidas
haveria uma redução da desigualdade e das injustiças entre cidadãos.