CAFÉ DO HORTELÃO II
É quase um regresso. A salamandra
está no mesmo sítio, a cadela
ainda não morreu. Mas espera-me
um sorriso de viúva que em vão
procura ser igual. Não vou ter de
acordar
ninguém para me servir um brandy,
uma cerveja, o vinho que arrefece
no esquife de alumínio ao lado do
balcão.
O café, pequena taberna, já só
abre
à tarde, por algumas horas,
obedecendo
mal, como pode, à tirania do
hábito.
Pergunto-me o que farão agora
os meus silenciosos amigos,
a breve confraria de álcool
que apostava comigo na infâmia.
Nunca mais vi o Pintéve, o
Falcão,
desconheço onde bebem,
mas tenho a certeza que bebem.
Uma vez faltou a luz e ficámos
toda a noite em silêncio de La
Tour,
encostados a um candeeiro de
petróleo.
Doutra vez faltou a vida,
senhor Hortelão, a vida. Quem
pudesse pintar a ausência.
Manuel de Freitas
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