Os sapatos de sola nova
escorregavam no passeio.
Aquele ambiente húmido amolecia o corpo, além do
espírito.
Era como se as pernas fossem de borracha, como se tivesse dois pés
esquerdos.
Ah…mas a moleza que sentia...parado
na esquina, os braços escorregando ao longo do corpo…a chuva não parava.
Quando
o dia acorda assim, sem motivo, de nevoeiro fechado e paredes suadas, de olhar
indiferente sobre nós, o seu peso faz-nos andar dobrados sobre o estômago, de
rostos congestionados pela posição. E andamos, e andamos, e andamos…e andava e
andava…
Só podia esperar pela primavera e
esta chegou e então ficou sem força para sair.
Tanta luz nas ruas deixava-o com
um complexo de inferioridade, que fazia com que não desse um passo sem esfregar
os olhos com as mãos, para esconder a cara, fingindo ser poeira o que o
incomodava.
Claro que então tropeçava com
toda a gente, que lhe chamavam cego, trenguinho ou lhe perguntavam se tinha
sono.
Sempre havia a possibilidade de entrar num café e beber uma cerveja, mas
também eram já poucos os cafés de que gostava.
Cheios de estudantes que se
diria que estudam todos o mesmo curso porque a conversa é toda igual.
E de novo
nas ruas tanta gente enjoava, eram trabalhadores e futebol ou estudantes e
namoros ou simplesmente secretárias de meia-idade que empestavam os passeios de
cara amuada.
Podia experimentar a biblioteca mas não tinha B.I. e não se
lembrava do número de cor e além de tudo, o livro que queria de certeza não
estava lá.
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